Toda sexta-feira ou festa de final de ano, ocorre a mesma coisa nos botecos: as pessoas cantam músicas de 30 ou até mais de 50 anos atrás. É a prova que os nossos ídolos continuam os mesmos e as aparências não enganam não, como resumiu Belchior na década de 1970. O "Trem das Onze", de Adoniran Barbosa, composta em 1955, é o exemplo disso: "Não posso ficar nem mais um minuto com você/ sinto muito amor/ mas não pode ser/moro em Jaçanã/ se eu perder esse trem/ que sai agora as 11 horas/ só amanhã de amanhã"...Passaram-se 56 anos e o samba "Trem das Onze" continua atual. Não apareceu outro melhor.
Exemplo de longevidade é a obra-prima de Paulinho da Viola, "Foi um Rio que Passou em Minha Vida" (Se um dia/meu coração for consultado/para saber se andou errado/será difícil negar/meu coração tem mania de amor/amor não é fácil de achar/a marca do meu desengano ficou/ficou/ só um amor pode apagar.) Esse samba foi composto no início da década de 1970 e até hoje parece atual.
Para quem enfrenta a dificuldade de pagar a mensalidade da faculdade com o suor do trabalho, a composição "O Pequeno Burguês", de Martinho da Vila, feita em 1969, mantém atualizado o mesmo retrato dos percalços de quem não nasceu em berço de ouro e resolve entrar no circuito universitário. Os versos "morei no subúrbio/andei de trem atrasado/do trabalho ia pra aula/sem jantar e bem cansado/ mas lá em casa à meia-noite/tinha sempre a me esperar/ um punhado de problemas e crianças pra criar", em pleno século XXI, revelam que o Ensino Superior ainda continua elitizado.
E o que dizer do som de Tim Maia? Em quantas mesas de bar as pessoas não cantam o refrão: "E eu/ gostava tanto de você/ gostava tanto de você"? Poucos sabem que esse hit foi sucesso em 1973. Pelo visto, nesses 38 anos, não apareceram composições de qualidade para impedir que boas músicas do passado continuassem atuais. Tudo isso é a prova que os nossos ídolos continuam os mesmos e as aparências não enganam. A culpa, sem dúvida, é dos falsos talentos produzidos pela indústria musical.
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