No final da década de 1970, o samba ganhou o talento do Grupo Fundo de Quintal. Ignorado pela maioria das rádios FMs da época, o conjunto conseguiu alçar voo em São Paulo por meio do programa "O Samba Pede Passagem", apresentado por Moisés da Rocha na Rádio USP FM. Trazia Almir Guinéto no banjo, Jorge Aragão no cavaquinho, Sobrinha no Violão, Sereno no tantã, Ubirany e Bira Presidente, ambos no pandeiro, e Neoci.
A história do Fundo de Quintal começa quando Beth Carvalho convidou seus músicos para participar de seu disco "Pé no Chão", produzido por Rildo Hora. A gravadora RGE percebeu o talento da rapaziada e lançou seu primeiro disco "Samba é no Fundo do Nosso Quintal". Antes, eles marcaram presença no disco "Partido em Cinco", volume 4, que teve como destaque a faixa "Mete o Dedo na Viola", na voz de Gracia do Salgueiro.
Até o samba estourar em 1986, sob o nome fantasia de pagode, o grupo continuou produzindo boas letras. Destaques para "Enredo do Meu Samba", de Ivone Lara e Jorge Aragão, "Castelo de Cera", Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, "Cantei pra Distrair", de Tio Hélio, "Parabéns pra Você", de Mauro Diniz, Sereno e Ratinho, "Eu não Fui Convidado", autoria de Zé Luiz e Nei Lopes.
Era um time de respeito. Estouraram nas rodas de samba com o hit "Gamação Danada", autoria de Almir/Neguinho da Beija Flor. O belo arranjo fez dessa letra a trilha sonora de muito namoro: "E gamação danada, é triste ter você/fazendo morada dentro do meu peito/deixando imperfeito o meu viver/gamação palavra que soa indelicada/mas é a única forma adequada/que justifica o meu penar/amar da maneira que amo não é mais amar/chorar por você como eu choro não é mais chorar/é derramar um arsenal de lágrimas/é me sentir o mais infeliz dos mortais..."Outro hit bonito deste disco é a faixa "Voltar a Paz", autoria de Sereno.
A nova concepção de tocar samba do grupo, atraiu muitos fãs. Até aquela época nenhum conjunto de samba usava banjo, repique e tantã. As letras revelavam o cotidiano da comunidade, mas recheadas de poesia. Oposto dos grupos atuais de pagode, onde a maioria das composíções é sofrível. Carregada de arranjos, instrumentos de sopros e dor de cotovelo.
O segundo disco do grupo "Samba é no Fundo do Nosso Quintal" teve a participação de Arlindo Cruz e Walter Sete Cordas. Ambos compensaram as saídas de Almir Guinéto e Jorge Aragão. Os dois investiram em carreiras-solo. Os bons arranjos continuaram. Um dos destaques foi a música "Sonho de Valsa", de Nei Lopes/Wilson Moreira. A introdução tem o solo de cavaquinho de um chorinho de Zequinha de Abreu. Teste de fogo para quem está aprendendo tocar esse instrumento. A letra é linda: "Só quem provou/o gosto amargo de uma ingratidão/só quem bebeu o fel da solidão/ é que pode saber/o que hoje eu sei/só quem ouviu/a voz do pungente violão/solando a valsa da desilusão/é que pode entender o que eu passei/num abismo de rosas me precipitei, pensei/depois num chão de estrelas/deitei e rolei/ mas então foi cruel/provei o fel dos lábios que beijei/hoje aquela valsa é sonho de valsa/eu pobre pierrot dancei/na carícia de um beijo que ficou no desejo/eu pobre pierrot dancei.."
Neste álbum entraram também os sucessos "Bebeto Loteria, de Gelcy do Cavaco e Pedrinho da Flor, "Prazer da Serrinha", autoria de Hélio dos Santos e Rubens da Silva, e "Zé da Ralé", de Almir Baixinho e Diogo. Após o estouro do pagode, o Fundo de Quintal "entrou" na programação das rádios FMs. No final da década de 1980 saem Sombrinha e Arlindo Cruz. Algum tempo depois Cléber Augusto se retira, o mesmo ocorre com o cavaquinista Mário Sérgio, compositor da Vai-Vai. Após 31 anos, o Fundo de Quintal continua em atividade.
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