Bob Dylan |
No Brasil temos vários exemplos também. Quem nunca ouviu ou cantou o refrão:" Vem vamos embora que esperar não é saber/quem sabe faz hora/não espera acontecer.." É a obra-prima de Geraldo Vandré, "Pra não Dizer que não Falei das Flores". Essa música, composta em fins da década de 1960, provocou a prisão de Vandré, além da apreensão do disco, que ficou censurado até 1979. Provavelmente nunca sairá dos corações e mentes de uma parcela da população.
Em 1972, Chico Buarque compôs o samba "Apesar de Você", uma crítica feroz ao presidente Médici, que governava o País com mão de ferro, prendendo ou matando quem lhe fizesse oposição. O ínicio da música já colocava o dedo na ferida do regime ditatorial: "Hoje você é quem manda/ falou tá falado/não tem discussão/a minha gente hoje anda/falando de lado/e olhando pro chão...Apesar de você/amanhã há de ser/outro dia/eu pergunto a você/onde vai se esconder/da enorme euforia/como vai proibir/quando o galo insistir/em cantar.." O presidente Médici e seu regime passaram, mas o samba de Chico Buarque permaneceu.
A Semana Santa de 1973 marcou o encontro de Chico Buarque e Gilberto Gil. Juntos compuseram a célebre "Cálice". Tornando famosos os versos:" Pai, afasta de mim este cálice/ Pai, afasta de mim este cálice/de vinho tinto de sangue..." De forma bem inteligente, a dupla usou a palavra cálice (que o padre usa para colocar vinho durante a Santa Ceia) querendo dizer calar. É a crítica contra o silêncio, a censura, a repressão contra qualquer ato cometido pela sociedade.
Ainda nos anos de 1970, Lúcio Barbosa escreveu um dos maiores sucessos de Zé Geraldo: a música "Cidadão". É a descrição correta da rotina dos trabalhadores da construção civil, geralmente discriminados por andar com as roupas sujas de cimento, mas responsáveis por tirar do chão prédios e casas inexistentes por todo o Brasil.
Um dos versos critica a falta de acesso à escola pelas crianças pobres: "Tá vendo aquele colégio moço?/eu também trabalhei lá/lá eu quase me arrebento/pus a massa fiz cimento/ajudei a rebocar/minha filha inocente/vem pra mim toda contente/pai vou me matricular/mas me diz um cidadão/criança de pé no chão/aqui não pode estudar/esta dor doeu mais forte/por que que eu deixei o norte/eu me pus a me dizer/lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava/tinha direito a comer..."
Zé Geraldo |
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