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Luís Alberto Alves/Hourpress

sábado, 7 de janeiro de 2012

Pra não dizer que não falei de Geraldo Vandré


Na década de 1980, na Rua Martins Fontes, Centro de SP, uma fã corre e abraça Geraldo Vandré, que havia acabado de tomar café numa padaria. Confessa que admira suas músicas e lhe pede um autógrafo. A resposta dele a deixa abismada: "Desculpe, me chamo Geraldo Pedroso. Geraldo Vandré morreu já faz tempo". Até hoje, ele continua arredio. Nunca mais fez qualquer show no Brasil, nem aceitou participar de entrevista nos mais badalados programas da nossa televisão. Numa rara entrevista concedida à Globo News, Vandré garantiu nunca ter sofrido qualquer tipo de tortura durante o regime militar, que mandou no País de 1964 a 1985.  Até garantiu que sempre foram ótimas suas relações com as Forças Armadas, principalmente com a Aeronáutica.
Quem viveu os calorosos e terríveis anos de 1960 e princípio da década de 1970, nunca se esquecerá da bombástica "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", que tornou-se hino dos partidos de esquerda brasileiros, principalmente dos movimentos estudantis e sindicais. A canção participou do III Festival Internacional da Canção, em 1968, numa época em que a linha dura das Forças Armadas começava a mostrar a face cruel existente em toda ditadura, seja de direita ou esquerda. O refrão "Vem, vamos embora/ que esperar não é saber/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer..." acabou interpretado como convocação à luta armada para derrubar os militares que deram o golpe de estado contra o presidente João Goulart, em 1º de abril, e não no dia 31 de março como foi ensinado nas escolas públicas.  Ficou em segundo lugar, perdendo para "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim, porém o público vaiou a marmelada. Tanto é que poucos se lembram que essa canção perdeu o festival.
Na década de 1980, para fazer média, Simone regravou "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores" e cantou a música num estádio do Morumbi lotado. Deixou Vandré magoado. Ele disse numa rara entrevista, que a cantora não tinha moral política para regravar sua música. Antes, a censura recolheu o disco e as rádios ficaram impedidas de tocar a canção. Com o fechamento do Congresso Nacional, em fins da década de 1960, por causa do AI-5,cassando direitos políticos de diversos governantes, Vandré desaparece do Brasil. Para alguns, ele teria sido preso e sofrido torturas psicológicas, até conseguir sair do Brasil. O cantor desmente, garantindo que viajou para o Exterior por conta própria, onde fez diversos shows na Europa e América Latina.
A carreira musical de Vandré começou em 1961, aos 26 anos, quando conheceu Carlos Lyra e tornou-se parceiro dele nos hits "Quem Quiser Encontrar o Amor" e "Aruanda". Três anos depois gravou seu primeiro LP (disco de vinil com seis músicas de cada lado), com as composições "Fica Mal com Deus" e "Menino das Laranjas", entre outros hits.
No ano de 1966 chegou à final do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, com a inesquecível "Disparada", numa maravilhosa interpretação de Jair Rodrigues. Ela dividiu o primeiro lugar ao lado de "A Banda", de Chico Buarque. Outros destaques de sua autoria são "Porta Estandarte" e "Aroeira". Após o fim da Ditadura Militar, na década de 1980, Vandré conseguiu se aposentar como servidor público federal, pois havia sido demitido por causa da canção "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores". Concluiu o curso de Direito, iniciado na década de 1960. Hoje trabalha como advogado. Quando questionado se voltaria a cantar, responde de pronto: "Só se for para cantar canções em espanhol. Não tenho mais espaço neste Brasil de hoje, onde cresceu o número de miseráveis e a manipulação". Seu grande amor atualmente, é escrever letras elogiando a Força Aérea Brasileira, onde já participou cantando ao lado de um coral formado por militares. Talvez o ódio, que ele alega nunca ter existido contra as Forças Armadas, transformou-se em grande amor.



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