Reportagens com clipes descrevendo histórias de artistas famosos,
principalmente de intérpretes da Black Music, além de destacar a importância do Blues no Showbiz.
Durante as décadas de 1970 e 1980, as novelas da Globo tinham excelentes trilhas sonoras, tanto nacional quanto internacional. Exemplo disso é a primeira versão de "Anjo Mau", em 1976. Um dos hits da trama era "Meu Mundo e Nada Mais", de Guilherme Arantes e "O Que é Amar", de Johnny Alf, um dos precursores da bossa nova. Faziam parte da trilha, também, "She´s My Girl", de Morris Albert, "This Time I´ll be Sweeter", um dos maiores sucessos de Linda Lewis, até hoje na programação das boas rádios FMs. Completava o time, a balada "Cry to Me", de Loleatta Holloway.
Em 1978, "Pecado Rasgado", trazia Ney Matogrosso no tema de abertura cantando "Não Existe Pecado ao Sul do Equador". Também apresentava a balançate "You and I", de Rick James. A mesma fórmula se repetiu em Marron Glacê", de 1979. O destaque musical da trama foi "Casinha Branca", de Gilson, anos mais tarde regravada em inglês por Jim Capaldi e em ritmo de samba por Neguinho da Beija-Flor.
As novelas das oito seguiam o mesmo caminho. "O Astro", de 1977, com o ator Francisco Cuoco no papel principal, trouxe a voz de Emilio Santiago na excelente "Nega", que entrou no seu repertório. Trazia o samba "Saco de Feijão", na voz de Beth Carvalho, uma forte crítica aos salários pagos na época. João Bosco cantava o tema de abertura "Bijuterias", em ritmo de bolero. As faixas internacionais destacavam "Easy", dos Commodores, "We´re All Alone", de Rita Coolidge, e "Only The Stronge Survive", com Billy Paul.
"Pai Herói", em 1979, tinha na sua trilha sonora "Explode Coração", na interpretação de Maria Bethânia, e o tema de abertura "Pai", ajudou definitivamente a decolar a carreira de cantor de Fabio Jr. A música internacional era "Sharing The Night Together", do grupo norte-americano de pop country Doctor Hook, já extinto. Esse hit estourou nas rádios FMs brasileiras.
No ano seguinte, "Coração Alado" reuniu vários temas bonitos. Começava com a música de abertura na voz de Fagner, "Noturno", que ajudou o cantor a entrar nas paradas populares. Outro destaque foi "Meu Bem Querer", na voz de Djavan. A parte internacional trouxe "I´m So Glad Tha I´m a Woman", com a orquestra de Barry White, Love Unlimited, "Rescue Me", na voz das duas meninas do grupo A Taste of Honey, "Sailing", de Cristopher Cross, "Shine On", de L.T.D.
Em 1972, uma das músicas que a Globo acertou em cheio ao colocar na trilha sonora de "Selva de Pedra", foi "Rock and Roll Lullaby", cantada por B.J.Thomas. Virou um de seus grandes sucessos no Brasil, deixando em segundo plano "Raindrops Keep Fallin´on My Head, ganhador de um Oscar, em 1969, no filme "But Cassidy and The Sundace Kid".
No mundo da música existem vários tipos de letras: de protesto, dor de cotovelo e de alto astral. Alguns cantores acertaram em cheio quando gravaram composições espantando a tristeza para o escanteio. O curioso é que elas continuam atuais, mesmo depois de vários anos. É como se tivessem sido escritas há pouco tempo, caindo como uma luva em determinados momentos de nossas vidas.
Exemplo disso é "Adeus América",autoria de Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa em 1948. Na época era uma crítica contra a invasão da música estrangeira no Brasil. Estreou na voz do excelente grupo vocal Os Cariocas. Mas foi em 1979 que ela ganhou outra roupagem na voz de Sérgio Mendes, no disco "Horizonte Aberto". O pianista ensaiava um retorno ao País, após mais de 14 anos nos Estados Unidos. Na época, Sérgio Mendes deixava claro que a América era boa, mas precisava voltar ao Brasil, onde ficou pouco tempo e pegou o avião de volta. "Não posso mais, ai que saudade do Brasil/ai que vontade que eu tenho de voltar/adeus América, essa terra é muito boa/mas não posso ficar/porque/o samba mandou me chamar/o samba mandou me chamar.."
Neste mesmo ano de 1979, época de abertura política no Brasil, permitindo a volta de vários políticos, artistas e intelectuais expulsos pelo Regime Militar, outra música com letra de alto astral fez sucesso. "Tô Voltando", autoria de César Pinheiro e Maurício Tapajós, foi gravada por Simone e vendeu muito disco. A composição descrevia o retorno de alguém obrigado a ficar distante de casa vários anos. Era o caso de pessoas que saíram para o exílio em 1964, 1965 ou 1968. Ambos capricharam na letra: "Pode ir armando o coreto/e preparando aquele feijão preto/eu tô voltando/põe meia dúzia de Brahma pra gelar/muda a roupa de cama/eu tô voltando/leva o chinelo pra sala de jantar/que é lá mesmo que a mala eu vou largar/quero te abraçar, pode se perfumar/porque eu tô voltando...."
Já em 1985, a Seleção Brasileira passava por momentos ruins. Era a dança dos técnicos. Na política, a população foi obrigada a engolir a eleição indireta para presidente da República, depois de a Emenda Dante de Oliveira ser derrotada na Câmara dos Deputados. Isto depois de passeatas com mais de 1 milhão de pessoas nas ruas e o famoso comício no Vale do Anhangabaú, onde um mar de gente se espremia do Viaduto do Chá até o Viaduto Santa Efigênia e ruas próximas.
Noca da Portela compôs "Levanta a Cabeça" e Bezerra da Silva colocou no disco Malandro Rife: " Eu sei que a dor no seu peito ainda há/mas levanta a cabeça compadre/o que passou, passou/mas porque a vida, ela sempre foi um perde ou ganha/mas quem não bate, apanha, isso é muito natural/o importante é manter a cabeça erguida/pra cicatrizar a ferida/ e levantar a moral..."
Em 1986, Marquinhos Santana, em parceria com Eros Liebert, lançou "Falsa Consideração". Narrava a história de alguém que foi enganado, mas conseguiu sair por cima. "Agora eu sei/ que o amor que você prometeu/ não foi igual ao que você me deu/era mentira o que você jurou/mas não faz mal/ eu aprendi que não se deve crer/em tudo aquilo que alguém nos diz/ num momento de prazer ou de amor/ mas tudo bem/ eu sei que um dia vai e outro vem/você ainda há de encontrar alguém/ pra lhe fazer o que você me fez/e aí/ na hora do sufoco sei que você vai me procurar/ com a mesma conversa que um dia me fez apaixonar/ por alguém de uma falsa consideração/ e ai/você vai perceber que eu estou numa boa/que durante algum tempo eu fiquei sem ninguém/mas há males na vida que vem para o bem..."
A balada "You Send Me" foi a senha nas madrugadas de muitos bailes nos últimos 50 anos. Era quando o DJ pegava o microfone e dizia a frase célebre: "Esta aqui é para você se arrumar. Caso volte sozinho para casa, a culpa não é minha, é tua que não soube aproveitar a oportunidade". Tudo começou em 1957, quando Sam Cooke estoura nas paradas de sucesso dos Estados Unidos. A letra simples, falando de uma paixão típica dos adolescentes conseguiu tirar Elvis Presley dos primeiros lugares nas rádios e programas de televisão, inclusive o de Ed Sullivan, considerado o Silvo Santos norte-americano. Ele teve outros destaques, como "I Love You (For Sentimental Reasons", "Wonderful World", da qual Tim Maia era fã confesso.
A voz suave e cheia de falsete foi herança da época em que cantava no coral de uma igreja batista. Logo entrou no quarteto vocal "Soul Stirres", especialista em cantar músicas gospel. O modo de interpretar influenciou várias feras da soul music, inclusive Marvin Gaye e Bobby Womack, de quem Sam Cooke era amigo de adolescência. O guitarrista dos Rolling Stone, Keith Richards resumiu a importância de Cooke para a música: " É alguém com quem todos os cantores têm de se medir e a maioria acaba voltando para o emprego no posto de gasolina".
A carreira de Sam Cooke foi curta: durou oito anos, quando morreu assassinado pelo gerente de um motel em Los Angeles. Neste período conseguiu deixar sua marca: envolveu-se na luta pelos direitos civis, pois até 1963 os negros não tinham direito de votar ou ser votado nos Estados Unidos. Descontadas as proporções, Cooke em alguns momentos lembrava Gonzaguinha com suas letras de protestos, mas recheadas de poesia e amor. Era duro, mas sem perder a ternura.
"You Send Me", desde 1964 foi regravada inúmeras vezes, inclusive pelos maiores cantores e cantoras dos Estados Unidos. E difícil definir qual a melhor. Aretha Franklin deixou sua marca numa interpretação magnífica, onde brinca com sua bela voz, num arranjo lindo.
Chaka Khan e o roqueiro Rod Stewart dão outro show cantando "You Send Me". O grupo Manhattans transforma o hit numa obra-prima, onde cada componente canta um trecho dessa linda balada. Roy Ayers e Carla Vaugh são a lembrança dos bailes das décadas de 1970 e 1980, pois fizeram dessa música uma suave trilha sonora para vários casais de namorados. O arranjo de xilofone, piano com trêmulo e a voz aguda de Carla entraram para história. Até hoje ainda ecoam nos ouvidos os seus versos iniciais:" Darling you send me/I know you send me/darling you send me/honest you do, honest you do/honest you do, whoa-oh-oh-oh-oh-oh..."
No final da década de 1970, o samba ganhou o talento do Grupo Fundo de Quintal. Ignorado pela maioria das rádios FMs da época, o conjunto conseguiu alçar voo em São Paulo por meio do programa "O Samba Pede Passagem", apresentado por Moisés da Rocha na Rádio USP FM. Trazia Almir Guinéto no banjo, Jorge Aragão no cavaquinho, Sobrinha no Violão, Sereno no tantã, Ubirany e Bira Presidente, ambos no pandeiro, e Neoci.
A história do Fundo de Quintal começa quando Beth Carvalho convidou seus músicos para participar de seu disco "Pé no Chão", produzido por Rildo Hora. A gravadora RGE percebeu o talento da rapaziada e lançou seu primeiro disco "Samba é no Fundo do Nosso Quintal". Antes, eles marcaram presença no disco "Partido em Cinco", volume 4, que teve como destaque a faixa "Mete o Dedo na Viola", na voz de Gracia do Salgueiro.
Até o samba estourar em 1986, sob o nome fantasia de pagode, o grupo continuou produzindo boas letras. Destaques para "Enredo do Meu Samba", de Ivone Lara e Jorge Aragão, "Castelo de Cera", Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, "Cantei pra Distrair", de Tio Hélio, "Parabéns pra Você", de Mauro Diniz, Sereno e Ratinho, "Eu não Fui Convidado", autoria de Zé Luiz e Nei Lopes.
Era um time de respeito. Estouraram nas rodas de samba com o hit "Gamação Danada", autoria de Almir/Neguinho da Beija Flor. O belo arranjo fez dessa letra a trilha sonora de muito namoro: "E gamação danada, é triste ter você/fazendo morada dentro do meu peito/deixando imperfeito o meu viver/gamação palavra que soa indelicada/mas é a única forma adequada/que justifica o meu penar/amar da maneira que amo não é mais amar/chorar por você como eu choro não é mais chorar/é derramar um arsenal de lágrimas/é me sentir o mais infeliz dos mortais..."Outro hit bonito deste disco é a faixa "Voltar a Paz", autoria de Sereno.
A nova concepção de tocar samba do grupo, atraiu muitos fãs. Até aquela época nenhum conjunto de samba usava banjo, repique e tantã. As letras revelavam o cotidiano da comunidade, mas recheadas de poesia. Oposto dos grupos atuais de pagode, onde a maioria das composíções é sofrível. Carregada de arranjos, instrumentos de sopros e dor de cotovelo.
O segundo disco do grupo "Samba é no Fundo do Nosso Quintal" teve a participação de Arlindo Cruz e Walter Sete Cordas. Ambos compensaram as saídas de Almir Guinéto e Jorge Aragão. Os dois investiram em carreiras-solo. Os bons arranjos continuaram. Um dos destaques foi a música "Sonho de Valsa", de Nei Lopes/Wilson Moreira. A introdução tem o solo de cavaquinho de um chorinho de Zequinha de Abreu. Teste de fogo para quem está aprendendo tocar esse instrumento. A letra é linda: "Só quem provou/o gosto amargo de uma ingratidão/só quem bebeu o fel da solidão/ é que pode saber/o que hoje eu sei/só quem ouviu/a voz do pungente violão/solando a valsa da desilusão/é que pode entender o que eu passei/num abismo de rosas me precipitei, pensei/depois num chão de estrelas/deitei e rolei/ mas então foi cruel/provei o fel dos lábios que beijei/hoje aquela valsa é sonho de valsa/eu pobre pierrot dancei/na carícia de um beijo que ficou no desejo/eu pobre pierrot dancei.."
Neste álbum entraram também os sucessos "Bebeto Loteria, de Gelcy do Cavaco e Pedrinho da Flor, "Prazer da Serrinha", autoria de Hélio dos Santos e Rubens da Silva, e "Zé da Ralé", de Almir Baixinho e Diogo. Após o estouro do pagode, o Fundo de Quintal "entrou" na programação das rádios FMs. No final da década de 1980 saem Sombrinha e Arlindo Cruz. Algum tempo depois Cléber Augusto se retira, o mesmo ocorre com o cavaquinista Mário Sérgio, compositor da Vai-Vai. Após 31 anos, o Fundo de Quintal continua em atividade.
Quem curtiu os bailes das décadas de 1960, 1970 e 1980, certamente dançou alguma música composta pelos Isley Brothers. O grupo, surgido em 1957, na periferia de Cincinatti, Estado de Ohio, a 900 quilômetros de Nova York, Estados Unidos, conseguiu ficar nas paradas quase 30 anos, quando morreu o guitarrista O`Kelly Jr.
A marca registrada de suas músicas era o som suave e contagiante do piano Rhodes, que os leigos imaginam ser um órgão. Exemplo disso é o hit "For The Love of You", do final da década de 1970, que no início dos anos de 1980 serviu para apresentar ao sucesso a então modelo Whitney Houston.
Mas a história da banda Isley Brothers é muito rica. O corinho "Shout", entoado nos cultos das igrejas Batista dos Estados Unidos, onde eles aprenderama tocar e cantar, foi regravado por quatro jovens de Liverpool, na Inglaterra, para impulsionar suas carreiras na América: eram os Beatles. Essa música é um jogo de pergunta e resposta, entre artista e público. Os Isley Brothers a traduziram para a soul music.
Por volta de 1965, o grupo composto por O´Kelly Jr., Rudolph (na foto acima à frente de branco), Ronald (de preto, de pé, ao lado de Rudolph, e dono da voz macia que tornou marca registrada das inúmeras baladas gravadas pelo conjunto) e Vernon, recebe um jovem tímido, mas fã de guitarra. Era Jimi Hendrix. Durante um ano, ele permaneceu na banda. Ao participar do Monterey Festival de Rock, em 1966, o mundo da música iria ganhar um de seus maiores guitarristas.
Outra jogada dos Isley Brothers foi criar a própria gravadora: T-Neck. A administração das finanças estava nas mãos de Rudolph e Kelly. Eles fechavam contratos e shows. Na década de 1960, quando tiveram rápida passagem pela Motown, estouraram nas paradas com a balada "This Old Heart of Mine". Nessa mesma época, o grupo acrescenta o tecladista Chris Jasper e, com ele, investe no funk (nada a ver com o horroroso ritmo criado no Rio de Janeiro).
Com a gravação da incendiante "It´s Your Thing", que teve o dedo de Chris Jasper, a banda começa a moldar a funk music, saindo dos modelos impostos pelas gravadoras Motown e Stax,que dominavam esse mercado. Ambas detinham os passes de feras como Stevie Wonder, Temptations, Marvin Gaye, Isaac Hayes e uma das melhores bandas de estúdio: Booker T & The Mgs,que acabou com a morte do roqueiro Otis Redding, em 1968, num acidente aéreo.
Na década de 1970, com seis integrantes, os Isley Brothers emplacaram vários hits. Foi a época das músicas "I Turned You On", "The Blaker The Berrie", "Lay Away", "Work to Do", "Keep on Do In" e "Freedon".
Em 1976, a balada "Let me Down Easy" estoura nas paradas, com destaque para o piano Rhodes de Chris Jasper e o vocal de Ronald, que explorou bem o vibrato (extensão das frases musicais com a boca). Nos anos seguintes vieram "For The Love of You", "Make me Say it Again, Girl", "Fight The Power", "Voyage to Atlantis", "The Pride" e a belíssima "Groove with You", de 1978, cujos vocais são uma verdadeira massagem para os ouvidos.
Essa lua-de-mel com o sucesso durou até 1985, quando os três caçulas, incluindo o tecladista Chris Jasper, saem do grupo, acompanhados de Ronald, a voz macia da maioria dos sucessos da banda. Eles criam o conjunto Isley Jasper Isley, com o álbum "Caravan of Love". No ano seguinte, o guitarrista O´Kelly morre dormindo. É a pá de cal para o fim dos Isley Brothers, após 31 anos de estrada. O mentor da banda, Rudolph, deixa o mundo do showbusiness e vira pastor em Cincinatti, cidade onde nasceu o conjunto em 1957. A outra facção Isley Jasper Isley continuou na estrada, mas empobrecida do talento dos fundadores, emplacou poucos hits nas paradas.
Quem curtiu a febre da discoteque na década de 1970 não esquece da energia da banda Chic. Emplacaram vários hits: " Dance, Dance", "Everybody Dance", "Good Times" e "Le Freak". Os cabeças do grupo eram o guitarrista Nile Rodgers e o contrabaixista Bernard Edwards. A entrada da vocalista Norman Jean, em 1977, sete anos depois de sua criação, colocou a Chic nas paradas. A faixa "Dance,Dance" estourou nas pistas de dança de todo o mundo, rendendo um disco de ouro.
Norma logo saiu, sendo substituída por Alfa Anderson. Em 1978, eles gravam o álbum "C´est Chic" e ganham o disco duplo de platina. Os destaques foram as canções "I Want Your Love" e a balançante "Le Freak", considerado por muitos o maior sucesso da banda, com 7 milhões de cópias vendidas.
O vento do sucesso continuou soprando em 1979, quando explodiram nas paradas com um funk mesclado com batida de discoteque: " Good Times". Esse hit serviu de fundo para o grupo de RAP Sugarhill Gang lançar o seu primeiro álbum. No Brasil ficou conhecido como "melô do tagarela", pois a letra falava dos feitos de um grupo de jovem nas ruas de Nova York. Até o piano Rhodes da banda Chic teve o som copiado pela Sugarhill Gang. O esforço não valeu muito, pois logo desapareceram do circuito.
Com a banda Chic, o êxito prosseguiu. Antes do final da década de 1970, transformaram em sucesso os hits "My Feet Keep Dancing" e "My Forbidden". Mesmo no comando do conjunto, Nile Rodgers e Bernard Edwards começaram a produzir outros artistas. Entraram na fila as meninas do Sister Sledge, Sheila B. Devotion, Madonna, David Bowie e Diana Ross. À dupla Nile e Bernard, Madonna deve os hits "Holiday", "Into to The Groove", "Like a Virgin". David Bowie vendeu milhões de cópias com a composição "Let´s Dance", tudo com o dedo produtor de Nile e Bernard. Já Diana Ross voltou às paradas com "Upside Down" e "I´m coming Out".
Em 1985, a banda deu um tempo. No ano seguinte retornaram. Sete anos depois lançaram o single "Chic Mystique". Fez sucesso. Resolveram excursionar pelo mundo. Numa turnê pelo Japão entre 1996 e 1997 perderam Bernard Edwards, que morreu de repente.
O grupo continua em atividade. Nile Rodgers tem um selo de produção musical para videogames, o "Sumthing Else Music Works", além de produzir outros artistas. Para quem gosta de tocar guitarra, é uma verdadeira aula ouvir Nile, principalmente por causa de sua batida, que virou marca registrada na black music.
O maestro Eumir Deodato é a prova do talento brasileiro brilhando nos Estados Unidos, onde está desde 1967. Nascido no Rio de Janeiro, aos 12 anos já tocava acordeão. Depois passou para o piano e começou estudar arranjo e regência de orquestra. Em pouco tempo, ele tornou-se um dos melhores arranjadores e pianistas do Rio de Janeiro. Antes do final da década de 1960, gravou com Milton Nascimento, Marcos Valle, Elis Regina e Tom Jobim.
Em 1967, Deodato foi para Nova York e começou escrever arranjos para alguns ícones do jazz dos Estados Unidos, entre eles Wes Montgomery, Stanley Turrentine, George Benson e Paul Desmond. Depois acertou a mão com trabalhos para Frank Sinatra, Roberta Flack e Aretha Franklin.
Já no ano de 1969, escreve parte da trilha sonora do filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço", onde ficou celébre a famosa música clássica "Also Sprach Zarathustra", que o arranjo de Deodato tornou bem popular. Em 1973, após algum tempo dentro dos estúdios resolveu excursionar pelo mundo ( Austrália, Japão, Canadá, América do Sul e Europa, além de viagens costa a costa nos Estados Unidos).
Para o bem da música de qualidade, ele resolveu concentrar seu trabalho em estúdio. Ganha vários prêmios e seus arranjos abrangem produções para Michael Franks, Chuck Mangione, Kevin Rowland e o grupo de black music Kool & The Gang.
Aliás, com a ajuda de Deodato, a banda Kool & The Gang emplacou vários hits no início dos anos de 1980. O mais famoso foi "Ladies Night" e várias composições que entraram nas trilhas sonoras das novelas das 8 da Globo. O curioso dos arranjos feitos por Deodato é a simplicidade, porém carregada da riqueza musical, de quem conhece profundamente o assunto.
No caso da faixa "Ladies Night", de 1979, que ressuscitou o conjunto Kool & The Gan, ele inicia a música casando vocal com solo de contrabaixo, depois começa o fogo. Ao contrário de outras funk music, neste hit ele acerta a mão nos metais e backing vocal. O trabalho rendeu o prêmio de melhor grupo de R& B ao Kool & The Gang.
Em 1980, os arranjos dele continuam e a música "Celebration" faz o Kool & The Gang torna-se fenômeno de venda naquela década. Até hoje, principalmente nos finais de ano, esse hit é um dos mais pedidos nas festas e programas de flash back.
Para não ficar enfiado sempre nos estúdios, Deodato às vezes grava algum trabalho próprio. Fez isto em 1978, quando lançou o álbum Deodato/Love Island, de 12 faixas. A balada "Tahit Hunt" estourou na maioria dos bailes, por causa do solo de trombone e ótimo arranjo de teclados. Muitos imaginavam que era música do grupo "Azimuth".
Nos anos de 1990, Deodato fez arranjos para três álbuns da cantora islandesa Björk: Post (1995), Telegram (1996) e Homegenic (1997). Em 1996, ele arranjou e produziu um álbum para Gal Costa. Neste mesmo ano fez arranjos para os Titãs e Carlinhos Brown.
Já em 1999 elaborou a trilha sonora do filme "Bossa Nova", de Bruno Barreto, Callaway. No final de 2001, participou de concerto em benefício da cidade de Nova York, quando tocou sua famosa música, trilha sonora do filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço" ( Also Sprach Zarathustra). Raramente, Deodato vem ao Brasil e quando isso acontece costuma fazer poucas apresentações, como a que ocorreu na virada cultural de São Paulo em 2011. Quem consegue assistir, vira testemunha ocular dos diamantes musicais nascidos no Brasil.
A década de 1970 foi marcada pelo soul da Filadélfia (Estado da Costa Leste Norte-Americana). Pelas mãos do trio Keneth Gamble, Leon Huff e Thom Bell ( grande compositor, arranjador e produtor) alçaram voo para o sucesso grupos como The Stylistics, Spinners, O´Jays, Harold Melvin & The Blue Notes e o músico Billy Paul, lembrado até hoje pelo megasucesso "Me and Mrs Jones", ganhador do Grammy de 1973.
Ao contrário da soul music de Detroit, com ritmo marcado por palmas e forte linha de contrabaixo, na Filadélfia predominavam os ricos arranjos de metais, deixando a música mais leve. Se fosse no Brasil, o som de Detroit lembraria o samba da Bahia e o da Filadélfia o executado em São Paulo, tirando como exemplo a música "Ronda", imortalizada na voz de Márcia.
Em 1971, Thom Bell transformou-se no principal arquiteto da Philadelphia Soul (conhecida nos Estados Unidos como Philly Sound). Em dupla com a letrista Linda Creed, compôs sucessos eternos, como "Stop, Look, Listen", "You are Everything" e "You Make me Feel Brand New", que fizeram os Stylistics vender mais de 10 milhões de discos em 1974.
Pianista clássico, Bell sabia deixar bonita uma composição. Quando tinha 19 anos, no final da década de 1950, foi arranjador responsável pelo lançamento de Chubby Checker, além de autor de várias de suas músicas. Nos anos de 1960, passou a produzir o grupo de soul Delfonics, com destaque para o vocalista Major Harris. Ele ficou célebre, em 1975, ao gravar a balada "Love Won´t Let me Wait". Que virou trilha sonora de casais de namorados, porque no final dessa música os sussurros simulam um casal transando.
Boa parte das letras de Thom Bell e Linda Creed abordava a questão amorosa. O grupo Harold Melvin & The Blues Notes estourou nos anos de 1970 com "The Love Lost". Nela é retratada a dor da perda de um amor. Os arranjos de teclados de Thom Bell colocaram "The Love Lost" nas principais paradas de sucesso dos Estados Unidos e virou marca registrada desse conjunto até a morte de Harold Melvin em 1997.
Outro destaque do Som da Filadélfia foi o cantor Billy Paul, que estourou em todo o mundo, em 1973, com o hit "Me and Mrs Jones". A letra, a princípio causou polêmica nos Estados Unidos, pois fala de um adultério. Com arranjo sofisticado, explorando bastante os teclados, o prêmio Grammy daquele ano acabou na Filadélfia.
Até 1978 durou essa alquimia, inclusive com lançamento, no Brasil, da coleção de discos "Black Beat", reunindo os principais sucessos do selo. Nessa época, Thom Bell e Linda Creed lançaram a cantora Tina Charles. Ela conseguiu emplacar alguns hits no Brasil e depois sumiu. A maioria de suas canções era carregada de arranjos de metais, como ocorria com o restante dos artista do cast.
O segredo do êxito do Som da Filadélfia era a competência dos principais envolvidos naquela empreitada. Thom Bell era pianista clássico e compositor, assim como Kenny Gamble. Leon Huff não tocava nenhum instrumento, mas tinha grande sensibilidade musical, influenciando na produção final. Linda Creed era excelente letrista, conseguia resumir uma história de amor em poucas linhas. Após sair da Filadélfia, Thom Bell virou arranjador dos Bee Gees e ajudou a fazer a trilha sonora de " Saturday Night Fevers " (Os Embalos de Sábado à Noite).
Johnny Rivers é aquele cantor com muita sorte. Conseguiu gravar músicas que viraram sucessos eternos. É a garantia de shows lotados em qualquer cidade. Para melhorar, esses hits nunca saem das paradas. O segredo foi investir no rock com forte pitada de blues, como ocorria na década de 1950. Assim que John Henry Ramistella, nascido em 1942, transformou-se no cantor, compositor e produtor Johnny Rivers, cujo nome é uma homenagem à cheia do Rio Mississipi, no sul dos Estados Unidos.
Aos oito anos de idade, quando sua família mudou-se para a cidade de Baton Rouge, Lousiana, ele formou sua própria banda, quando estava no equivalente ao curso primário nos Estados Unidos (Junior High School). Aos 14, fez sua primeira gravação.
Em 1960, Johnny Rivers conheceu James Burton, guitarrista do rei da country music, Ricky Nelson. Uma de suas músicas foi gravada por Nelson. Johnny Rivers mudou-se para Los Angeles e ali começou a trabalhar como compositor e músico de estúdio.
Quando estava com 25 anos, em 1963, resolveu passar seu tempo num bar chamado Gazzari´s. A sorte estava ao seu lado. Numa das noites, o trio de jazz que trabalhava no local saiu. O dono pediu para Johnny Rivers ocupar a vaga por uns dias, até encontrar outro substituto. Quando começou a tocar rock, com forte influência de blues, diversas pessoas passaram a frequentar o Gazzari´s.
Sua fama cresceu. No ano seguinte, o clube Whisky a Go Go lhe ofereceu contrato de um ano para cantar. A casa inaugurada em Hollywwod ( bairro da cidade de Los Angeles onde fica a maioria dos estúdios de cinema) foi palco de vários artistas.
A popularidade de Johnny Rivers já era grande. Nessa época, o produtor Lou Andler, compositor de vários sucessos do cantor, bancou o lançamento do álbum Johnny Rivers Live at The Whisky a Go Go. Ele fica entre os 12 mais vendidos nos Estados Unidos. Neste disco, ele inclui Twist and Shout (hit lançado pelos Isley Brothers no final dos anos 50 e regravado pelos Beatles) e La Bamba (gravado por Ritchie Valenz em 1958). É adrenalina pura.
Em 1965 sai o álbum " And I Know You Wanna Dance". Nele entrou a composição " You´ve Lost That Lovin´Feelin", famosa balada que até hoje frequenta as boas FMs, e claro, os bailes, onde ainda se dança de rosto coladinho. O refrão ficou famoso: " You´ve lost that lovin´feeling/whoa, that lovin´feeling/you´ve lost that lovin´feeling/now it´s gone..gone..gone..wooooh.."
No ano seguinte, Johnny Rivers solta o seu lado blues, que aprendeu a cultuar no sul dos Estados Unidos, quando morou na Lousiana. No álbum "John Lee Hooker" estão duas músicas que revelam seu potencial: "When a Man Loves a Woman", clássico composto por Percy Sledge, que virou trilha sonora de vários bailes nos Estados Unidos e Brasil. Como o blues é a música, onde o intérprete precisa expressar seus sentimentos, Johnny Rivers abriu seu coração. Nesse disco ele homenageia um dos papas do blues: Johnny B. Goode.
A partir de 1966, a carreira de Johnny Rivers decola de vez. Ao regravar "The Tracks of My Tears", autoria de Smokey Robinson, o sucesso passa a lhe acompanhar. A voz suave casou perfeitamente com a letra. No Brasil estourou o rock de baile "It´s Too Late". O hit deixa em segundo plano a guitarra, destacando os teclados.
Em 1967, o produtor Lou Andler compõe "Poor Side of Town". Johnny Rivers grava e a música tornou-se sucesso até hoje. O hit fica em primeiro lugar nas paradas norte-americanas. A letra fala de uma menina pobre que trocou o namorado por outro rico.
Quase no final da década de 1960, grava "Summer Rain", autoria de Jimi Hendrix. Novamente o sucesso se repete. Nessa época, ele aceita a letra "Do You Wanna Dance?", de Bobby Freeman. Nos Estados Unidos o single é um fracasso. Porém na Europa e Brasil, essa música alcança os primeiros lugares das paradas e entra definitivamente na programação das rádios FMs. O próprio cantor fica surpreso, nas vezes que se apresenta no Brasil, como ocorreu em abril de 2010. Atualmente ele é dono de gravadora, com 25 milhões de discos vendidos. Continua compondo, aos 69 anos, e claro, vivendo dos sucessos que plantou desde 1965.
A carreira musical de Billy Stewart durou 14 anos, mas deixou para sempre sua marca na black music norte-americana. Em 1956, aos 19 anos, grava seu primeiro disco com ajuda do amigo Marvin Gaye. Billy fez o acompanhamento no piano e na guitarra teve o apoio de Bo Diddley, um dos pais do rock e excelente guitarrista de blues. No ano seguinte, novamente com Bo Diddley, compôs "Baby, You´re My Only Love".
Foi para Los Angeles, na California, onde continuou seu trabalho. Em 1960 grava o segundo álbum. Estouram nas paradas os hits "Reap What You Sow" e " Stranger Feeling". Dois anos depois transforma em sucesso os hits "Fat Boy", "True Fine Lovin". Em 1963 fez o mesmo com " Sugar and Spice". Repete a dose em 1964 com "Fat Boy Can´t Cry", "Count Me Out", " Tell It Liek It Is" e "My Sweet Senorita".
A grande sacada de Billy Stewart ocorreu em 1965, quando compôs e gravou " I Do Love You", uma balada regravada até hoje por vários artistas dos Estados Unidos. Autêntico R&B (blues de rua) que entrou para a história de muitos bailes nos anos seguintes. Nesta mesma época, emplaca as pérolas " Keep Loving", "Stting In The Park", "Once Again", "How Nice It Is", "No Girl", "Because I Love You" e "Mountain of Love".
Em 1966 grava o álbum "Billy Stewart Teaches Old Standards New Tricks". Surpreende o mercado musical ao gravar o clássico de George Gershwin, "Summertime". Sua interpretação coloca esse hit entre os oito colocados nas paradas de sucesso norte-americana. No ano seguinte grava "Secret Love"/"Look Back and Smile". Seu estilo cheio de scats (sons de notas feitos com a boca, de onde o cantor brasileiro Ed Motta inspirou-se) acabou influenciando vários cantores. Um deles foi Erasmo Carlos, no Brasil, que no início da carreira era adepto do rock, carregado de rhythm´n blues, como ocorria na década de 1950.
A música "Secret Love"/"Look Back and Smile" entrou no Brasil na coletânea "Deixa cair com Ton Ton", feita por uma casa noturna existente na Rua Nestor Pestana, Centro de SP, na década de 1960. A capa era ilustrada por um homem pré-histórico. Durante muitos, esse disco era muito difícil de se encontrar, principalmente nos sebos.
O ano de 1967 trouxe, ainda, outros hits compostos por Billy Stewart. Os destaques foram: " Every Day I Have The Blues", "Old Man River", "Cross My Heart" e "Why ( Do I Love You So)?". Em 1968 e 1969 ele não deixou a peteca cair. Compôs "Tell Me The Truth", "What Have I Done?", "I´m In Love", "Crazy´Bouth You, Baby", "By The Time I Get To Phoenix" e "We´ll Always Be Together".
Aos 33 anos, durante viagem no Estado da Carolina do Norte, Billy Stewart sofreu grave acidente, no qual morreram ele e três integrantes de sua banda.
Zapp é daquelas bandas que chegam devagar, conquista espaço e fica na memória dos fãs. Foi na década de 1980, que ela surgiu, formada pelos irmãos Troutman, Roger, Larry, Lester e Terry, cujo apelido batizou o grupo. Começaram abrindo shows para Prince, Commodores, Barkay´s , P-Funk e Cameo.
Eles foram criativos ao usar o talk box (aparelho utilizado para dar efeito similar à voz em instrumentos musicais). A fonte de inspiração da banda eram os grupos Ohio Players e Parliament, de onde surgiu o funk dinamite de George Clinton.
Por causa da boa qualidade do som, a banda Zapp logo chegou às paradas de sucesso, principalmente nos bailes, em virtude de suas baladas. Em 1982, o segundo álbum "Zapp II" repetiu o êxito do primeiro em 1980.
Em 1983, eles lançaram o "Zapp III". Pegaram bem nos bailes as faixas " I Can´t Make You Dance" e "Heartbreaker". Dois anos depois, a banda investe pesado no talk box na faixa "Computer Love". O resultado apareceu na maioria das rádios FMs, cuja música sempre surgia entre as mais pedidas.
Nesta pegada, o grupo continuou na estrada. Em 1987 voltaram a emplacar outro hit: "I Want To Be Your Man", do terceiro álbum solo de Roger "Unlimited".
Antes de o grupo se separar, eles vieram para shows em São Paulo, em 1985 e 1988, quando apresentaram-se nos ginásios do Corinthians e Palmeiras no mesmo sábado.
Como acontece com vários artistas norte-americanos, a banda Zapp ficou assustada quando subiu ao palco do Palmeiras para cantar para mais de 16 mil pessoas. Despejaram seus maiores sucessos, porém a balada "Be Alright" surpreendeu: por causa do refrão "Be Alright", os músicos não acreditavam ao ouvir aquele imenso coral.
Tudo funcionou bem para o grupo até Larry, responsável pela percussão, brigar com o seu irmão Roger, líder e vocalista principal da banda. Larry teria atirado em Roger e depois suicidou-se. O restante do conjunto tentou continuar o trabalho, mas sem o talento de Roger a tarefa ficou difícil. Permaneceram as lembranças e os grandes sucessos da banda e de sua passagem por São Paulo em dois shows maravilhosos.
Jorge Benjor coleciona uma grande lista de sucessos em 48 anos de carreira: "Mas que Nada" (1963), "Chove Chuva" (1963), "A Princesa e o Plebeu" (1963), "Charles, Anjo 45" (1969), "Cadê Tereza" (1969), "Que Pena" (1969), "Bicho do Mato" (1970), "O Telefone Tocou Novamente" (1970), "Fio Maravilha" (1972), "Minha Teimosia, uma Arma pra te Conquistar" (1974), "Jesualda" (1975), "Xica da Silva " (1976), "A Banda do Zé Pretinho" (1978), "Ive Brussel" ( 1980), " O Dia que o Sol Declarou Seu Amor Pela Terra" (1981), "Katarina" (1981), "Roberto, Corta Essa" (1986), "W/Brasil (Chama o Síndico)" (1990).
Com um caminho bem-sucedido na vida musical, essa é a trilha sonora do garoto Jorge Duílio Lima Menezes, nascido em 22 de março de 1944, em Madureira, periferia da Zona Norte do Rio de Janeiro. Ao entrar para o mundo da música, adotou de sua mãe o sobrenome Ben (Silvia Ben Lima) africana originária da Etiópia.
Para a felicidade da MPB, o destino não permitiu que Jorge Benjor (na época Jorge Ben) fosse jogador de futebol do time do Flamengo, onde atuou vários anos como centro avante da equipe de Juniores, marcando diversos gols de placa. Quando estava para profissionalizar-se, sofreu séria contusão no tornozelo, encerrando o sonho de ganhar a vida como atleta.
Partiu para a música. Começou a tocar violão (era época da bossa nova, twist e o rock tinha saído do berço há pouco tempo). Para completar, ganha uma camiseta com a inscrição em inglês "Bop a Lena", nome de um rock que gostava. Essa composição passou a fazer parte do repertório do grupo The Snakes, integrado pelos amigos Tim Maia, Erasmo Carlos e China. A pronúncia errada de Bop a Lena transformou-se no apelido Babulina, que o acompanha até hoje.
A maneira de tocar, com o dedo polegar e o indicador chamou a atenção do contrabaixista do conjunto Copa Trio, Manuel Gusmão. Nessa fase, início da década de 1960, ele começa frequentar bares e boates do Beco das Garrafas, em Copacabana, Zona Sul, do Rio de Janeiro, onde a bossa nova dava os seus primeiros passos.
Ali, Jorge Benjor conhece feras como o pianista Johnny Alf, Sérgio Mendes, Elis Regina, Simonal e Antonio Adolfo. Neste ambiente jazzístico, de harmonia musicais bem trabalhadas e improvisos, ele começa trabalhar na boate Little Club. Chama atenção com suas músicas próprias, de harmonias simples, mas atrantes. Acompanhado pelo conjunto Copa Cinco (Meirelles - sax, Pedro Paulo - trompete, Toninho - piano, Dom Um Romão - bateria e Manuel Gusmão - contrabaixo), ele começa fazer sucesso entre os frequentadores da noite do Beco das Garrafas.
Em 1963, o excelente grupo Tamba Trio grava "Mas que Nada", em seguida o tecladista Zé Maria faz o mesmo com "Por Causa de Você Menina" e também "Mas que Nada". Numa noite após cantar essa música na Boate Bottle´s , Jorge Benjor é procurado pelo produtor da gravadora Philips, João de Melo. Meses depois, ele lança um disco com os hits "Mas que Nada" e "Por Causa de Você Menina". Acompanhado pelo grupo Copa Cinco, consegue vender 100 mil cópias.
O rápido sucesso trouxeram as críticas. Suas letras foram classificadas de infantis, as harmonias pobres, além de ser tachado de tocar violão, pois usava o polegar e o dedo indicador, enquanto os violonistas da bossa nova dedilhavam o instrumento.
Anos depois, quando questionado a respeito do seu estilo de tocar, ele respondeu que fazia no seu violão as batidas das escolas de samba depois do desfile.
Do Beco das Garrafas foi para os festivais universitários. Em 1964 apresenta-se no programa "Fino da Bossa", na TV Record, sob batuta de Elis Regina e Jair Rodrigues. As músicas "Chove Chuva" e "Bicho do Mato" entram para o repertório de vários programas de televisão.
Até 1969, a crítica classifica Jorge Benjor de fenômeno passageiro. Artista cometa: aparece rápido e velozmente desaparece. Porém, no IV Festival Internacional da Canção, da TV Globo, em 1969, a música "Charles, Anjo 45" é bem acolhida pelo público.
Para completar, no Miden (festival francês que reúne músicos de todo o mundo), Jorge Benjor é muito elogiado por causa do hit "Domingas", uma declaração de amor para sua esposa. Conseguiu calar a boca dos críticos e ganhou passaporte definitivo para o sucesso no Brasil e restante do mundo.
Em 1989 foi obrigado alterar seu sobrenome para Benjor, por causa da semelhança com George Benson. Os direitos autorais de "Mas que Nada", uma das canções brasileiras mais executadas nos Estados Unidos até hoje, era confundido com "This Masquaredes", autoria de Benson. "Mas que Nada" foi regravada por Ella Fitzgerald, Dizzy Gillespie, Al Jarreau, Herb Alpert, José Feliciano, Trini Lopez e recentemente pelo Black Eyed Peas.
Quem gosta do verdadeiro funk, criado nos Estados Unidos, sem qualquer ligação com o ritmo horroroso surgido no Rio de Janeiro, precisa ouvir a música de George Clinton, principal líder da banda Parliafunkadelicment Thang, conhecida também como P-Funk All Stars.
Na década de 1970, Parliament e Funkadelic realizaram os mais lindos shows da black music. Autênticas viagens, por causa dos ótimos arranjos.
Uma das sacadas era fazer um funk carregado de boas harmonias e impressionantes riffs de guitarras. Também aberto aos improvisos. Num de seus shows realizado na Alemanha, em 1985, a marcação da bateria, metais e instrumentos de corda deixaram a plateia enlouquecida, numa verdadeira aula de como é o verdadeiro funk.
A história de Clinton começa em 1955, quando ainda adolescente, em Nova Jersey, Estados Unidos, funda o grupo vocal chamado Parliament. Na década de 1960, chamou a atenção da Motown, a maior gravadora de black music daquela época. Em 1967, o hit "I Wanna Testify" ficou entre as 20 primeiras colocadas nas paradas norte-americanas. Depois lançaram outro single: "All Your Goodies are Gone".
Por causa de briga na Justiça a respeito do nome Parliament, Clinton adotou o nome Funkadelic, a partir de 1968. Passou a compor músicas mais engajadas. A mudança refletiu até nas capas dos discos, com grande pitada do psicodelismo tão latente no final da década de 1960.
Criou polêmica ao fazer uma capa onde aparecia vestido de smoking, dentro de um caixão e seus músicos ao redor de fraldas. Nos dedos de Clinton estava um cigarro de maconha. O hit deste disco era "Chocolate City". Sua proposta era mostrar o desprezo da Igreja pelos problemas das pessoas residentes na periferia.
Em 1974, pelo selo Casablanca, Clinton grava o álbum "Up for The Down Stroke", que ficou entre as 10 mais nas paradas de R&B (blues de rua). Nessa época engrossou sua banda com vários músicos talentosos: o baixista Bootsy Collins (ex-James Brown), o guitarrista Eddie Hazel e Gary Shider, os bateristas Bernie Worrell e Junie Morrison (ex-Ohio Players), além do arranjador Fred Wesley (ex-James Brown).
Essas mudanças influenciaram na assinatura de um contrato com a Warner Bross. É dessa época o hit "Tear The Roof off The Sucker". A composição ficou entre as cinco primeiras colocadas nas paradas de R&B.
A ascensão de George Clinton resultou num grande concerto com a banda Earth, Wind & Fire. Durante a apresentação, uma enorme nave "descia" no palco e dela saíam os músicos da Earth, Wind & Fire. De 1976 a 1981, gravou diversos hits e se manteve nas paradas. O destaque ficou por conta de "Flash Light" quando introduziu o baixo sintetizado, mais tarde imitado por diversas bandas de funk. Ganhou o disco de platina pelos álbuns "Funkentelechy e "The Placebo Syndrome in 1977".
Em 1979, George Clinton produziu o disco "Funkadelic - Uncle Jam Wants You", com seis faixas. A música "(Not Just) Knee Deep", com quase 20 minutos invade as paradas e bailes de todo o mundo. É considerado, por muitos, o funk mais longo da história. A capa é repleta de mensagens subliminares. A boina na cabeça homenageia o movimento Black Panther, que explodiu nos Estados Unidos no final da década de 1960, sua mão direita erguida remete à febre hippie, que nessa época estourou em diversos países; na mão esquerda uma alegoria lembra a coronha de um rifle, lembrando das forças das armas na tomada do poder.
A década de 1980 é marcada por vários processos judiciais de músicos de sua banda. Alguns lançam novos grupos, usando o nome Fundadelic. Após lutar, ele consegue reverter o prejuízo. Lança os discos "Hydraulic Pump - Part I", depois "Computer Games" e o single "Atomic Dog", que alcançou o primeiro lugar nas paradas de R&B de 1983. A partir daí investe em RAP e Hip Hop. Dois anos depois produz o segundo disco de Red Hot Chili Peppers. No final dos anos 80, regrupou novos músicos na sua banda P-Funk All Stars. Nesses concertos inclui o rapper Ice Cube e o pessoal do Chilli Peppers.
Em 1996 sai a coletânea Greatest Funkin´Hits, com moderna remixação. Clinton continua em atividade e criando polêmica no mercado da música.
Desfile de escola com samba enredo bonito é artigo do passado. Hoje, os compositores cariocas e paulistas entraram na era descartável. Letras sofríveis e melodias ruins predominam. Pouca gente lembra do samba que fez sucesso em 2007 ou 2009.
Porém nas festas de final de ano, em qualquer mesa de bar, alguém recordará de alguns sambas, de mais de 36 anos atrás, que até hoje continuam na boca do povo. O motivo? As escolas ainda não tinham entrado no esquema comercial do Carnaval, onde os bambas das comunidades carentes perderam lugar para "modelos" e participantes dos bigs brothers da vida, que precisam passar por aulas para dançar samba.
Em 1974, a dupla Evaldo Gouveia e Jair Amorim levou para avenida "O Mundo Melhor de Pixinguinha", gravado em disco por Jair Rodrigues. Até hoje seus versos fazem sucesso: "Lá vem Portela/ com Pixinguinha em seu altar/ e o altar da escola é o samba que a gente faz e na rua vem cantar/Portela, teu carinhoso reino é oração/pra falar de quem ficou como devoção em nosso coração"...
Em 1980, a Mocidade Alegre levou para avenida o samba "Embaixada de Sonho e Bamba", de Barbosa,Crispim e Praxedes, que dizia em alguns trechos: "...O arauto anunciou/abre as portas do palácio/que a embaixada chegou/ hoje é festa em Pernambuco/ para o governador/que cortejo alucinante/ de batás e agogôs..." Ela foi campeã e esse samba entrou na memória dos sambistas de bom gosto.
No ano de 1982, a escola União da Ilha apresentou o samba "É Hoje", autoria de Didi e Mestrinho". Fez tanto sucesso que acabou gravado por Simone e Caetano Veloso, anos depois. Novamente predominaram versos simples e melodia bonita: "A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela/fez um desembarque fascinante/no maior show da terra/será que eu serei o dono desta festa/um rei no meio de uma gente tão modesta.."
"E por falar em saudades" foi o samba enredo da Caprichoso de Pilares, no Rio de Janeiro. Os compositores Almir de Araújo, Balinha, Marquinho Lessa, Hércules e Carlinhos de Pilares, de forma irônica, criticaram as mazelas do governo no Carnaval de 1985: "Saudade, ô/meu carnaval é você/caprichosamente/vamos reviver, vamos reviver/na fantasia de um eterno folião/o bonde/o amolador de facas/o leite sem água/a gasolina barata/aquela seleção nacional/e derreteram a taça na maior cara de pau..."
Em São Paulo, ainda na época dos desfiles na Avenida Tiradentes, a Vai-Vai apresentou, no Carnaval de 1978, um de seus sambas mais lindos: "Quem entra na arca de Noel Rosa não sai mais". Autoria de Lírio e Osvaldinho da Cuíca, a letra e melodia eram impecáveis, principalmente o refrão: "Noel, Noel, Noel/ essa linda noite é sua/o Vai-Vai está em festa/neste carnaval de rua..." Este samba conseguiu fazer sucesso em todo o Brasil, num tempo em samba tocava muito pouco em rádio.
No ano de 1983, o enredo "Meu gosto abraçado à ilusão" fez a Nenê de Vila Matilde levar outro samba enredo que ficou na memória do povo, principalmente da Zona Leste. Também tinha letra e melodias bonitas, que alinhadas à famosa bateria da escola, respeitada até no Rio de Janeiro, fez a cabeça de muita gente naquele ano.
De autoria de Armando da Mangueira, Oswaldo Arouche e Biguinho, esse samba tinha refrão valente: "Sou a viola/sou a lua que clareia/realidade de um sonho que vagueia/sou ilusão/sou o samba pé no chão..."Infelizmente este estilo de samba e Carnaval já desapareceram, predominando uma festa, que há muito tempo deixou de ser popular.