Billy Paul: vitoriosa carreira de 49 anos de sucessos inesquecíveis |
Luís Alberto Alves
Lembro-me como se fosse hoje. Ainda no início da adolescência, sai para
pagar títulos nos bancos e cartórios existentes no Centro de SP na primeira
metade da década de 1970. Estou passando pela Avenida São João, próximo ao
Largo do Arouche, quando presenciei diversas pessoas paradas na porta do hotel
San Raphael.
Na calçada estava um negro, de aproximadamente 1,60 metro de altura, com
chapéu de couro preto, idêntico ao da capa de seu disco que estourou nas
paradas de todo o mundo em 1973. Era Billy Paul. Viera para diversos shows no
Brasil no ano de 1974.
Lotou o salão de convenções do Anhembi, na época a casa de espetáculos
de São Paulo. Na rádio Difusora Jet Music, o hit “Me and Mrs. Jones” tocava a
todo instante. E claro, nos bailes também. Desde 1972 tinha emplacado várias
canções nas paradas, apesar de começar a cantar aos 33 anos, em 1969.
Antes, aos 11 anos, já era experiente no Jazz, ao trabalhar com Dinah
Washington, Miles Davis e Roberta Flack, bem como Charlie Parker. O pulo do
gato de Billy Paul foi entrar na Philadelphia International Records, fábrica de
sucessos montada pelo trio Keneth Gamble, Leon Huff e Thom Bell (grande
compositor e produtor de Black Music).
Os três criaram na década de 1970 o “The Philly Sound”, conhecido no
mundo como “O Som da Filadélfia”. A grande jogada usada nos discos de Billy
Paul, até a década de 1980, eram ricos arranjos de metais, deixando a música
mais leve, ao contrário da Soul Music de Detroit, conhecida pelo ritmo marcado
por palmas e forte linha de contrabaixo.
O resultado veio em 1973 com a canção “Me and Mrs. Jones” ganhando o
Prêmio Grammy. O curioso é que a letra deste hit narrava a história de um
adultério, que provocou polêmica nos Estados Unidos. Mas os arranjos de Thom
Bell passaram por cima de tudo isso. Mostra disso é a balada "This Is Your Life" de 1971, com poucos instrumentos, mas de arranjo bonito e envolvente.
Os 81 anos que terminaram ontem (25/4) em Nova Jersey, quando encerrou
sua jornada neste mundo, Billy Paul gravou inúmeros sucessos. Usando o R&B
com sutileza transformou letras simples em lindas canções. Algo raro hoje em
dia. Nem seu vozeirão tirava o romantismo das composições que tornou imortal.
Veio diversas vezes ao Brasil, exceção em 1978 quando um empresário desonesto
pegou dinheiro de uma promotora de bailes de Black Music no bairro paulistano
do Tucuruvi, Zona Norte, a Sideral, que havia locado o ginásio da Portuguesa
para o show e Billy Paul não viajou ao Brasil.
Após esse episódio esteve diversas vezes no País, até mesmo em pequenas
cidades de São Paulo.
Quando questionado por que gostava de cantar músicas românticas, dizia
que era para as mulheres. Sem pretender inventar a roda, sua banda não abusava
de efeito especiais. Apenas fazia o feijão com arroz, porém carregado de bom
gosto e profissionalismo. O resultado disso se traduziu em 49 anos de brilhante
carreira. A Black Music amanheceu mais pobre nesta segunda-feira...