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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Martinho da Vila, o sargento que trocou o Exército pelo samba

 


A canção estourou e causou polêmica, pois mexia com um tabu

Luís Alberto Alves/Hourpress

Imaginem a década de 1960, principalmente os três primeiros anos de Ditadura Militar no Brasil, quando as Forças Armadas começavam a caça aos opositores, principalmente quem fosse integrante ou simpatizante dos partidos de esquerda, inclusive do partido comunista.

É neste emaranhado que o sargento Ferreira, cujo nome de batismo é Martinho José Ferreira, mas ficou conhecido no samba, como Martinho da Vila, estava quando em 1967 resolveu inscrever a música “Menina Moça” no III Festival da Record. Para complicar era simpatizante da ideologia do então Partido Comunista do Brasil, conhecido como partidão.

A canção estourou e causou polêmica, pois mexia com um tabu: mulheres se casarem depois de manter relacionamento sexual com o namorado. Mesmo sendo um militar burocrata, onde exercia a função de escrevente e contador, os colegas de alta patente não demoraram em reconhecê-lo como o cantor do samba polêmico e de participar de shows no teatro opinião, celeiro de artistas de esquerda, como Tereza Aragão e o escritor Ferreira Gular entre outros.

Fome

Logo aumentaram os convites para shows e no ano de 1970, pediu baixa para se tornar cantor profissional. Motivos não faltavam: em 1969 estourou nas paradas com o hit “Pequeno Burguês”, onde narra o sufoco do universitário pobre estudando numa escola particular e a desgastante divisão entre trabalho e faculdade, tomando trem e ônibus lotados, além de criar os filhos, sem deixá-los passar fome.

Em 50 anos de carreira, Martinho da Vila, que foi auxiliar de químico industrial, filho de lavradores, que chegou ao Rio de Janeiro aos 4 anos de idade e criado na Serra dos Pretos-Forros, é autor de canções inesquecíveis, como: “Casa de Bamba”, “Quem é do Mar não Enjoa”, “Prá que Dinheiro”, “Ex-Amor”, “Canta Canta Minha Gente”, “Tribo dos Carajás”, “Disritmia”, “Brasil Mulato” entre outros.

Foi o segundo sambista a vender mais de 1 milhão de discos com o CD Tá Delícia, Tá Gostoso, lançado em 1995. O primeiro foi o também carioca, Agepê, em 1984, com 1,5 milhão de cópias do álbum Mistura Brasileira.

Bahia

Mas qual o segredo de Martinho da Vila para se manter ainda no auge nestes 50 anos de carreira bem-sucedida? Ele canta o samba simples, sem frescura, o arroz com feijão, mesclando bons músicos e numa batida que somente os grandes mestres sabem cultivar. Não é rápido, igual o samba da Bahia, nem lento igual o de São Paulo, mas com balanço, se encaixando perfeitamente na sua pequena voz.

Apaixonado pela escola de samba Vila Isabel, onde entrou em 1965. Ali escreveu vários sambas-enredo, até chegar ao memorável Kizomba: A Festa da Raça, que garantiu o título de 1988. Martinho da Vila é da época que samba só tocava nas rádios no Carnaval, sendo ignorado pela televisão, jornais e revistas durante o restante do ano.

Mesmo assim levantou bandeiras, como a de 1975, quando gravou um samba ecológico, numa época que não se falava neste assunto, muito menos nas faculdades. Na letra, ele descrevia o extermínio dos indígenas. O boicote dos meios de comunicação não barrou o seu sucesso.

O resultado disto apareceu em regravações de suas canções no Exterior, por causa da versatilidade em criar composições nos estilos de ciranda, frevo, samba de roda, capoeira, bossa nova, calango, toada e samba-enredo. Precavido, só 53 anos depois, um general, que foi o seu sogro, descobriu que ele era simpatizante do comunismo. Qualidade dos grandes militantes, que sabem driblar as dificuldades para a defesa de uma ideologia.

 "Pequeno Burguês"

https://www.youtube.com/watch?v=tigoxrnfoaE

"Casa de Bamba"

https://www.youtube.com/watch?v=VwsgCuQTlk0

"Tribo dos Carajás"

https://www.youtube.com/watch?v=1McSd8kR9mM

"Ex-Amor"

https://www.youtube.com/watch?v=oGSpoVZ5LhU

"Disritmia"

https://www.youtube.com/watch?v=ObU62GlC7mE

"Menina Moça"

https://www.youtube.com/watch?v=e4bkwbmLwwo

"Kizomba, Festa de uma Raça"

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